O objetivo do trabalho é analisar a qualidade da interação professor-alunos, no
desenvolvimento de uma aula tradicional, com a presença de analogias, tanto como uma
estratégia didática deliberada como implícita no discurso do professor. Entenderemos aqui a
analogia, como uma forma de explicar algo que a princípio não é fácil definir com clareza ou
exatidão necessárias, apelando para situações consideradas familiares para o sujeito que
aprende, Duit (1991). Para o professor e ciências analogias, metáforas e modelos são
ferramentas para aumentar a compreensão dos alunos, Dagher(1995).
Pretendemos verificar como as analogias são usadas em sala de aula, qual o seu
objetivo, como o aluno se apropria das analogias usadas pelos professores. Procuramos
focalizar as analogias dentro do contexto de sala aula, seja sob o aspecto de facilitar o trabalho
do professor ou na busca do professor por uma aprendizagem significativa.
Como instrumento de coleta de dados, utilizamos vídeogravações em aulas de física,
química e biologia numa escola pública de ensino médio, e um cursinho pré-vestibular. As
gravações foram transcritas e daí foram organizados episódios para a análise do material.
Consideramos como episódio uma seqüência que incluía uma intervenção do professor até
uma “resposta” explícita ou não de algum aluno ou a retomada do próprio professor. Esses
episódios envolviam vários tipos de analogias e interações. Estabelecemos uma grade de
análise para organizar todo o discurso do professor e também dos alunos quando são
explicitadas as interações, nestes episódios diferentes tipos de analogias são evidenciadas de
acordo com sua relação com o conceito alvo. Nesse contexto, não se esperava encontrar um
uso indiscriminado de analogias dentro da sala de aula. Acreditávamos que as analogias iriam
ocorrem de uma forma muito pontual, apenas em alguns tópicos da matéria mas, para a nossa
surpresa, as analogias se mostraram presentes em todos os momentos, seja com origem no
professor e, as vezes, no aluno. Num estudo bibliográfico, verificamos que poucos trabalhos
existem nessa linha (Dagher), seria um dos poucos encontrados que analisaram as analogias
em aulas de ciências presentes a todo momento, seja na fala do professor como na do aluno; nem todas parecem ter sido pensadas no planejamento das aulas, e também nem todas são de fato incorporadas no
desenvolvimento da aula. Muitas vezes aparecem, da parte do professor, principalmente
depois da introdução ou no final do assunto, como se ela, por si só, desse maior sentido ao
conteúdo em questão, independente da participação dos alunos. Os episódios selecionados
procuram mostrar sequências de sala de aula em que analogias foram encontradas, embora
nem sempre incorporadas no diálogo do professor-alunos, para construir ou reelaborar
conceitos e atingir a aprendizagem significativa.
O principal resultado até agora mostra que raramente as analogias são exploradas com
profundidade necessária para ajudar a conceituação desejada: seus aspectos positivos e em
“ressonância” com o conteúdo a ser construído ( o alvo) são super valorizados e seus aspectos
negativos e limitados na relação com o conceito alvo são desprezados e muitas vezes até
mesmo escondidos. Além disso, e este é o resultado mais significativo, o professor não
percebe quando analogias estão partindo dos próprios alunos, através de exemplos e idéias de
senso comum, sob a forma de dúvidas ou questões geradas no seu dia-a-dia.
Surge uma grande expectativa em procurar entender melhor a sala de aula, o que está
sendo feito e o que poderia ser feito para mudanças no método ou na fala do professor,
entender como ocorrem as interações professor aluno ou aluno professor, como um escuta o
outro. As analogias servem como um pano de fundo, uma vez que elas são ferramentas
valiosas para o professor conseguir se comunicar ou fazer-se entender, como elas são usadas,
e como elas interagem nesse contexto.
Revista: IV ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS
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