Adentrar em uma classe de alunos que conhecem bem o conteúdo de matemática
e que tiveram toda uma formação específica é um privilégio. Porém, ensinar teorias
e métodos educacionais, objeto da área das ciências humanas, para quem optou desenvolver
a área de conhecimento de ciências exatas, não é simples, mas é um desafio.
Como estudantes da área de ciências exatas pode interessar-se por uma área de
ciências humanas? Falar de prática de ensino para alunos que até
o momento tiveram a formação puramente teórica, também é remar contra a
corrente. Agora eu teria um desafio ainda maior: como incentivar os alunos a compreender
as mudanças ocorridas dentro desta prática de ensino?
Para que eu, professor da rede estadual do Estado de São Paulo
desde 1973, porém nunca professor do ensino superior, pudesse dar uma resposta
a estas interrogações exigiu uma pesquisa que estaria em um movimento dinâmico
entre prática e teoria, e assim a possibilidade de construir um caminho. Esta
exigência mostrava que eu teria de pensar em estratégias que fizessem os alunos
expressarem suas ideias através da fala e da escrita - uma vez que são alunos
de exatas e não possuem o hábito de expressarem em grupo cooperando na
socialização dos seus conhecimentos em sala de aula e por não possuírem o
hábito da escrita como forma de expressão de seus pensamentos. Também
necessitaria a socialização do que pensam, para juntos, professor-aluno
construírem práticas de ensino.
Para esta socialização na fala e na escrita, criaríamos
trabalhos de grupo que socializaríamos com o todo que foi discutido pelo grupo
e individualmente ou coletivamente, expressariam por escrito a compreensão da
discussão. Contudo, durante as micro-aulas seriam discutidos os pontos negativos
e positivos das mesmas, além de trazerem por escrito o planejamento referente a
elas. Mas, uma barreira parecia intransponível. Ë possível ensinar prática a alguém
sem que este a pratique? É possível praticar com os seus pares conteúdos já conhecidos?
Teríamos que praticar a partir do que existe pronto, ou era bom conhecer novos
caminhos antes de pô-los em prática? Seria oportuno criar situações para que
novos caminhos práticos também surgissem? O método que
utilizaríamos seria o da reflexão contínua, uma vez que seria a primeira vez
que estaríamos trabalhando em nível de terceiro grau, e é claro que esta
reflexão estaria sempre sendo socializada com os alunos que, por sinal nesta
fase da vida, podem ser considerados adultos. Portanto, estaríamos assim
fazendo um caminho novo, bem diferente daquele que os alunos fizeram antes na
universidade. Sendo um caminho novo não saberíamos aonde chegar, e nem teríamos
muitas referências de como poderíamos percorrê-lo, mas teríamos de ter a
ousadia de criá-lo, e creio ser este um dos aspectos importantes na formação de
um etnomatemático. Ousar criar caminhos.
Contudo, para criar caminhos é necessário entendermos as
diferenças que existem entre o treinar, educar e ensinar. Seriam diferentes
estas três atitudes em um profissional da educação, ou seriam elas as mesmas?
Qual a diferença?
Ensino de Matemática desenvolvida
por um etnomatemático: novos caminhos novos rumos
Pedro Paulo Scandiuzzi1